Feito histórico? Jovem democracia iraquiana?

"Quase cinco anos depois do 11 de Setembro. Logo após o final da Segunda Guerra Mundial, um senhor chamado George Kennan, na altura diplomata americano em Moscovo, escreveu um longo telegrama para Washington. Nele, fazia o diagnóstico da União Soviética de Estaline, dos seus métodos e dos seus objectivos políticos. Depois, propunha uma política, que ficou conhecida como ‘containnement’, ou em português, ”contenção”. A ideia era conter o comunismo através da diplomacia, da economia e da propaganda, usando também as forças armadas, mas sem chegar a um confronto militar directo com os soviéticos. O longo telegrama de Kennan foi histórico, e definiu uma política externa que durou mais de quarenta anos. Embora tenham existido momentos graves de tensão, e ajustamentos às políticas consoante os presidentes ou os problemas, foi na verdade Kennan que traçou, com inteligência, a direcção política da América durante a Guerra Fria. Hoje, faz muita falta um George Kennan que ilumine as ideias americanas no Médio Oriente. Para qualquer interessado, compreender a política americana na região é um verdadeiro quebra-cabeças. Os erros e os disparates seguem-se a velocidade estonteante. Já ninguém percebe qual é, ou quais são, os objectivos americanos. O objectivo é fazer a ”guerra ao terrorismo”? Mas então porque não é prioritária a perseguição a Bin Laden, agora confortavelmente instalado na zona fronteiriça entre o Afeganistão e o Paquistão? O objectivo é ”promover a democracia”? Então porque se mantêm relações ”privilegiadas” com um ditador, Musharraf, no Paquistão, e com um regime fundamentalista religioso, a Arábia Saudita? E porque se promove as eleições na Palestina para depois não aceitar sequer dialogar com o vencedor, o Hamas? O objectivo é impedir a proliferação nuclear? Então porque se assina um acordo de cooperação nuclear com a Índia, se aceita sem pestanejar a existência de armas nucleares no Paquistão, e se vende armas nucleares a Israel, enquanto se ameaça o Irão com graves consequências, leia-se bombardeamentos cirúrgicos, às suas centrais? O objectivo é promover os ”direitos humanos” na região? Então porque se permitem excessos terríveis, tanto nas prisões do Iraque como em Guantanamo, que retiram qualquer autoridade moral à América, causando-lhe um violento rombo na sua ideia de promover os ”valores ocidentais”? Na verdade, quase cinco anos depois do 11 de Setembro, qualquer ser humano com dois dedos de testa percebe que a região está muito mais instável, e que a política externa americana é uma pura esquizofrenia. No Afeganistão, os talibans atacam o frágil regime de Karzai, porque os americanos querem retirar dali à pressa. A Osama, ninguém lhe toca, e prepara-se para desestabilizar o Paquistão que, esse sim, tem armas nucleares. No Irão, foi eleito um presidente inflamado e populista, que cospe insultos e causa profundos receios. Na Palestina, ganhou o Hamas. No Egipto, crescem os fundamentalistas. O Líbano e a Síria estão à beira do abismo. E do Iraque, nem vale a pena falar. Só na semana passada morreram 500 pessoas em atentados terroristas, e a formação de um governo estável é uma utopia. O país acorda todos os dias à espera de uma guerra civil que só por milagre ainda não deflagrou. O Americano médio não tem noção nenhuma das realidades étnicas que envolvem essas regiões, quer tribais (Israelitas vs Palestinianos), geopolíticas (Siria vs Libano e Iraque vs Irão), étnicas/ castas (Índia vs Paquistão). O americano médio não pensa, consome e isso basta."
Domingos Amaral ‘The great American disaster’

Em 5 de Novembro de 2006, Saddam Hussein foi condenado à pena de morte por enforcamento. A sentença daquele que é considerado o julgamento do século foi lida esta manhã, em Bagdade, numa sessão que durou cerca de 40 minutos. O ex-presidente iraquiano foi considerado culpado pela morte de 148 xiitas na década de 80, na sequência de uma tentativa de assassinato de Saddam. O ex-ditador, de 69 anos, pode ainda recorrer da sentença. Notícia publicada na imprensa desta manhã.

Eu sou contra a pena de morte. Seja de quem for. Até Cavaco Silva é contra a pena de morte. Até Tony Blair é contra a pena de morte. O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, considerou que a condenação à morte por enforcamento de Saddam Hussein "é um feito histórico para a jovem democracia iraquiana".
Que pensar? Que fazer?

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