
Foi na Marginal desta linda cidade que eu, meus Pais e Irmão passeamos, em tempos de colonialismo. Nos anos 60's, no século passado. Hoje, nesta foto, reconheço a "minha rua". Chamava-se Salvador Correia. Olhando bem, identifico o prédio. O cenário que guardo nas minhas recordações de adolescente é idêntico a este. Da janela da sala, o meu olhar envolvia a baía, e espraiava-se até à Ilha de Luanda, onde ficava a base naval, local de trabalho de meu Pai. Saudades muitas. Tantas que até doem. Dos cheiros da marginal em maré baixa, do porto de pesca =( mas também do ar sem odores específios. Da côr da baía na desova do camarão. Dos ventos repentinos que anunciavam trovoadas, que depois de ventarem e jorrarem águas que faziam Luanda ter inundações, deixavam uma paleta de côres inolvidável no Céu e alguns vidros de janelas partidos, fruto da abertura das mesmas por causa do calor. E de repente, não mais que de repente, o Sol aparecia e evaporava aquela água toda. Lembro-me também da vez que não tive carrinha para me levar da escola a casa (Vicente Ferreira, a Escola Comercial) e depois das 13h me pus a caminho, por terra batida, com o Sol a torrar-me o miolo, em direcção à paragem do machimbombo que me levasse até à Mutamba. Daí seguir a pé até casa, rua comprida a minha. Do ralhete recebido mal cheguei, dado por meu Pai, que nem me deixou falar sobre o meu atraso... Naquela altura não havia telemóveis, nem tão pouco cabines telefónicas nem a obrigatoriedade de ter telefone em casa. Meus Pais falavam primeiro. Não perguntaram o que tinha acontecido, mas apresentaram as preocuações sentidas com o meu atraso. E depois de um almoço mal comido, caí na cama com um febrão que me pôs a tremer e a transpirar. Ai ai, médico prá qui, hospital prá li e leveram-me, para o Hospital Militar (ou era da Força Aérea?), fora de mim, encharcada num mar de suor. Tinha sido picada por um mosquitinho. Não dei por nada. Estive mal, com paludismo (Malária). Sobrevivi com a toma de quinino. Mas a cidade de Luanda e a minha estadia lá, foram centenas de outras experiências muito mais aprazíveis. Meu Deus, quantas.
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