Em 2002, meados do mês de Maio, numa tarde de sábado, vou com Marido e Anourah a-ver-o-mar, lá para o lado da Inatel de Oeiras. Sem perceber muito bem como, escorrego. Essa perda temporal de chão e consequente desiquilíbrio, leva-me a um estrondoso bate cu. A minha perna esquerda fica a 45 graus de abertura em relação à direita, o respectivo pé calçado num ténis colado ao chão e um leve som de osso ofendido e respectiva dor, foram sentidos por mim. Ai! Nem consigo levantar-me. Nunca tinha quebrado nada, em toda a minha vida. Sinal dos cinquenta que se aproximavam ... Atestado médico no trabalho, e depois? Acordar à mesma hora de sempre, mas trabalhar. Ficar no mesmo sítio, outra vez. Esperar 50 dias, com talas e bota de gesso. Pacientemente, esperar. Visitas de famíliares e amigos. Minha Pitú, sobrinha de 11 anos, a divertir-se imenso à minha custa, a percorrer com as canadianas o corredor cá de casa, imitando-me com um saboroso "não custa nada tia!". Pois.
Que mais podia fazer? Bordar, dormir, ler. Lembro-me que de Susana Tamaro, "Responde-me". 3 histórias. De crianças. De adolescentes. De adultos. OS GRANDES DEVEM TOMAR CONTA DOS MAIS PEQUENOS. De acordo. Mesmo que não sejam do mesmo sangue. Também de acordo. Os mais poderosos devem tomar conta dos mais fracos. Idem, idem. Neste Planeta em que vivemos, compartilhamos o sobre-viver com outras espécies, animais e vegetais. Dependemos uns dos outros. Por exemplo: O Sol nasce em África. A gazela acorda. Tem de se alimentar e busca espécies vegetais, que ali estão, agarrados à mãe-terra, sem fuga possível. Mas a gazela também tem de estar alerta e correr muito para não se tornar numa refeição. E o leão? Ou antes, a leoa, acorda. Tem de se alimentar e alimentar a família, de espécies animais. Tem de correr muito atraz da gazela, para se alimentar. Na cidade, eu acordo... Tenho sorte em ser pessoa, não tenho que caçar nem sou caçada =). Mas nesta situação, sou como o vegetal! Tenho de me alimentar, em menor quantidade. Quase ganhei raízes! Marido no trabalho. Quem cuida de mim? Quem me alimenta? Minha Mãe. Ah! claro. Cheia de paciência lá me vai aturando. Que fazer? Os grandes devem tomar conta dos mais pequenos, né? Transformar limão em limonada, já que não tenho idade para birras.
Lembrei-me desta estória porque ontem tornamos a a-ver-o-mar, em Oeiras. Sem o Anourah. Mas com Mãe e Marido. O local está lá. Olhei-o e apontei - foi ali - há mais de 3 anos. Como o tempo passa sem nos dar-mos conta.
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