Estórias







Houve um dia que Jolie me trouxe um saquinho com louro dentro. Tome lá, disse, louro do meu quintal. Agradeci, porque uso a folha do loureiro nos meus cozinhados. Peguei no saco e pu-lo em cima da máquina do café, num canto da bancada da cozinha, com intenção de escolher as folhas e guardá-las no sítio, mais terde. Estivemos na conversa e Jolie foi-se embora. Quando me lembrei do saco, já era chegada a noite. Quando o ía pegar, reparei num tubinho verde que em forma de L tentava subir pela parede acima. De dentro do saco tinham caído algumas folhas. E olhando mais melhor ainda, o bichinho era verde verde, com dorso e cabeça de dragão. Fui buscar o telélé e disparei a primeira foto. Depois chamei Marido e mostrei-lhe o brinde que tinha vindo com as folhas do louro. Lindo. Era mesmo lindo. Pena o telélé não ter capacidade de zoom para captar com nitidez os biquinhos do dorso, os olhinhos pretos, os cornichos com pontinhas encarnadas. Peguei numa folha de louro e tentei que ele passasse para ela. E passou! E começou a ondular, a deslocar-se, parecendo querer alimentar-se. Fui disparando. Clic, clic e aí estão as melhores fotos do bichinho. Que fazer com esta criatura? 
O jantar por servir, Marido com fome, mas ele estava primeiro. Peguei nas folhas todas e no bichinho e coloquei-os dentro do saco, que iria ser o seu esquife. Enquanto ele tivesse alimento, tentaria sobreviver. E mandá-mo-lo janela fora, para as traseiras do prédio, onde coabitam gatos, melros, pombos, andorinhas, pardais e caracóis.

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