É impressionante a quantidade de pessoas - imigrantes de diversas origens do planeta Terra - que nos abordam, pedindo, contando histórias. Pedem dinheiro. Ofereço-lhes alimento, elas agradecem, mas querem dinheiro.
Nas ruas da Baixa lisboeta eles estão proliferando como cogumelos no Outono. Eu vou passando, olhando, vendo com olhos de ver. É para isso que me desloco à Baixa. Para a saborear. Como há muitos anos atrás, quando ir até à Baixa era sinal de passeio, de tarde bem passada, de compras.
Olhar de hoje e olhar de há anos, mas que grandes diferenças. Lembrar alguns prédios, as ruas empedradas, os eléctricos e autocarros, os pombos, as floristas. Os cafés e leitarias, as esplanadas, os engraxadores de sapatos, os vendedores ambulantes-de-gravatas-fitas-de-nastro-pentes-para-pentear-carecas, os cauteleiros, as montras dos grandes armazéns - Grandela, Chiado, A Casa Africana - a loja dos discos da Valentim de Carvalho na Rua do Carmo - onde podíamos ouvir um single ou um LP dentro de umas cabines com auscultadores nas orelhas e pedir fotos autografadas dos nossos artistas preferidos ... para onde os mandámos? Desapareceram.
Céus, para onde me levou este tema. Eu só queria mostrar o cãozinho!
Pois hoje, está lá um pouquinho só, destas minhas recordações.
Mais pobre, a minha Baixa lisboeta está mais rica em mendigos. Mãos estendidas, mãos a tocarem-me, membros doentes expostos, invisuais a tocarem mal instrumentos, um jovem a tocar acordeão com um chamariz - um cãozinho, que fotografei.
*Não podes dar a todos*, recomenda a senhora minha Mãe, que faz muito gosto em me acompanhar no passeio. Já fomos muito felizes em momentos passados há anos, na Baixa lisboeta.
E na realidade chego a um ponto de saturação quando sou de novo abordada, pela enésima vez e só sorrio e peço desculpa por não poder abrir de novo o porta moedas. Mas não sei lidar com mãos estendidas. Não fico bem comigo mesma.
Ir até à Baixa é bom. Mas fica-me sempre um saborzinho amargo porque a miséria de alguns convive com o meu bem estar, com a minha satisfação de dar um passeio numa tarde de Primavera com a senhora minha Mãe por companhia.
* Santo Agostinho
Sem comentários:
Enviar um comentário