Miru, o primo mais novo

Fotos de GuidinhaPinto: Miru, o gatinho que não gostava de colo

Fomos de visita à Prima Fernanda e ao Primo Mário. Antes do Natal, para desejar Boas Festas. Quando chegamos à quintinha, depois dos beijinhos e os vulgares como estão - tudo bem, à medida que íamos despindo os agasalhos, ouvimos um miá, repetido, não miau, mas miá, fraquinho, baixinho.

- Há cá tareco novo? perguntei

- Há, é o Miru. Olha onde ele está! disse-me apontando para cima da máquina de lavar - desde que chegou que não sai daí.

- Olá coisinha linda, disse baixinho, pondo-me ao nível dele, quando o olhei e estiquei a mão para lhe fazer uma festa.

-Pffffffffffffff ... foi a resposta, ao mesmo tempo que se retraía e escondia debaixo do casaco de lã velho, que lhe servia de cama e de companhia.

- Ele é muito arisco, avisou-me Prima Fernanda. Já me arranhou e ao teu primo também. Olha - disse esticando o braço e arregaçando um pouco a camisola, no sítio do punho. Umas risquinhas vermelhas. Se soubesses o trabalho que deu traze-lo de Caminha para baixo! Vinha dentro de uma caixa, mas de vez em quando conseguia sair de lá e depois para o apanhar outra vez ... foi um sarilho, de vez em quando lá tínhamos de parar o carro! contou-me a Prima Fernanda. Sorrimos.

- Mas é tão pequenino, tiraram-no da mãe muito cedo, retorqui eu com pena. Olá lindinho! Coitadinho dele, tão pequenino - dizia-lhe eu ao mesmo tempo que tentava uma aproximação. E leitinho? Dás-lhe? É do magro e metade da dose é água, informei eu logo.

- Não é nada pequeno! Leite não lhe dou porque a São disse-me para não dar. Ele come bem a ração e bebe água, só não gosta é de colo. Arranha todos.

Já não quis mais informações. Então este pequenino, com 1 mês, sem a mãe nem o resto dos irmãos, estava a aprender tudo sozinho? E nem leitinho lhe davam?! Eu e Marido já não desviamos a atenção do bichinho. Nem ele de nós. Lindo. Cor de areia e branquinho neve. Olhos de cor indefinida, talvez para tom de avelã, vivos, brilhantes, marotos. Tantas fizemos os três que ele saiu de cima da máquina e saltou para o chão, brincou com uma bolinha em lã atada com um fio comprido que Marido arranjou, correu, caiu de cauda, miou, arranhou, trepou e tombou ... Deixou-me aproximar para os diversos cliques, espantado, inquisidor. A pouco a pouco foi-se aproximando de pessoas, de nós. E dos donos, a sua nova família, sem tempo para o acarinhar.

À mesa do lanche, enquanto conversávamos e bebericávamos uma tisana de lúcia lima, sentíamos que qualquer coisa andava a arranhar-nos as nossas calças de ganga. Quando espreitámos para debaixo da mesa, lá estava o Miru, com uns olhos muito brilhantes, muito pequenino, a olhar para nós. Até que Marido lhe pegou. Não pelo cachaço, mas por baixo, junto do peito. Com as patas muito esticadas, as unhas pareciam agulhas fininhas. A pouco e pouco, Marido ajeitou-o e colocou-o ao colo. E ele deixou-se ficar. Mordiscou a mão que lhe fazia festas, mas sem mastigar. E qual não foi o nosso espanto, o Miru enrolou-se e adormeceu. Ouvia-se o ronronar. Rrôrrôrrô! E em pouquíssimos minutos, parecia sonhar o sonho dos gatinhos. Porque durante o tempo em que o estávamos a olhar, quase a velar - nem falávamos, só contemplávamos - ouvimos sons de gato-bebé, vimos estremeções, novamente miámiá, até que de repente, num pulo, ficou sentado nas pernas de Marido, meio atordoado, devendo perguntar-se *mas onde é que eu estou?*

Este é o Miru. Mora numa quintinha e se tiver sorte há-de viver muitos anos. Não passará fome, nem sede e terá uma caminha de lã enquanto for preciso. Liberdade não lhe faltará. Colinho ... terá, se o procurar. É a vida.

Dedico este Post à Sarita, filha da Dina, com um beijinho. E também à minha Afilhada Sofia Rute.

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