Hoje ouvi no noticiário e li em jornais falar-se sobre a Eutanásia.
Com o que sei por ter aprendido,comentarei noutro post o que penso dela.
Aqui, escrevo das pessoas com doenças.
Conheço o País onde vivo e algumas das várias opiniões das pessoas sobre a vida, os medos, as saúdes. E alguns dos pensamentos dos que nos tratam as doenças, nos Hospitais Públicos. Conheci aplicações políticas variadas dos diversos Ministros da Saúde e dos respectivos Administradores Hospitalares. Trabalhei cerca de 30 anos no IPO de Lisboa. Como Assistente Administrativa (Secretariado Clínico). Venho de 1973 (tempo da outra senhora) ... Saí em 2003. Assisti a muitas mudanças, políticas e de pensamento. É do tempo do meu I.P.O. a existência de dois quartos em cada um dos três pisos da Oncologia Médica, para cuidados paliativos. Nós, Administrativas, tal como outros funcionários públicos (que são desancados por todos, hoje em dia) sabíamos, compreendíamos. Respeitavamos as portas fechadas por sabermos o drama que se passava lá dentro. Será que ainda existem esses quartos? Pergunto-me. Conheço a vida sem saúde, a doença, o padecimento da pessoa humana com cancro. Também sei que há outras doenças degenerativas, da mesma forma agressivas e degenerativas.
Há que aceitar a inevitabilidade da morte! Eu, como pessoa Adulta e os Médicos! Os Médicos não sabem tudo. Não fazem milagres. Eu não acredito em milagres. Não sabem como tratar os doentes que já não têm tratamento. A ciência médica é assim. Tem evoluído na descoberta de novas atitudes terapêuticas, mas a "doença" também evolui por outros caminhos.
Os Médicos não devem "tratar" o intratável, porque nada mais sabem e podem fazer. Mas podem e devem ter consciência que não podem perder o controlo da situação e não abandonar o doente. Independentemente da política em moda.
Admiro os Médicos que pensam e agem: Não fazer mal.
Eu, nós temos de actuar ao mínimo sinal do nosso organismo. Sem medos. É o nosso corpo, é o meu corpo, é EU. Não podemos pensar que evacuar sangue é hemorroidal e deixar andar! Tem de ser diagnosticado e não adivinhado! Temos de agir. Medos?! E depois não é demasiado tarde? Eles, os Médicos, não podem cumprir a sua função e ajudar-nos a ficar bem.
Os Médicos sabem e transmitem-nos que quanto mais precocemente a doença for diagnosticada, mais possibilidades têm os tratamentos existentes de cumprirem a sua função. Os tratamentos dos tumores malignos seguem um protocolo: bichinho A, tratamento A; bichinho B, tratamento B... não há muito mais a fazer. Se forem administrados precocemente, são capazes de tratar e até curar! Só que estes tratamentos são tão agressivos que acabam com o resto do organismo vivo e são, se adiamos por medo a ida ao Médico. Foi o que aconteceu ao meu Amigo-ido Francisco, desde hoje com morada definitiva no Cemitério de Benfica. Há 14 meses diagnosticado e tardiamente (por seu desleixo) de um tumor maligno, foi operado e químio-tratado. Passou as passas do Algarve. Levou o resto da sua vida a ser mal-tratado. Sempre foi assistido, e bem, por uma equipa médica do Hospital Pulido Valente (H.P.V.), em Lisboa. Mas em vez de notarmos melhoras, fomos assistindo à degradação física e psíquica de um homem de mais de um metro e oitenta e 90 quilos de peso.
Em casa junto da família, o doente já não "arrebitou" e foi ficando debilitado no seu dia a dia. Quando o visitavamos íamos assistindo à sua degradaçáo, física e psicológica. Deixou de ser auto-suficiente nos seus mais básicos movimentos como levar alimento à boca, ter de usar fraldas deixar de comunicar com os próximos... “Não aguenta mais tratamentos” dizia-nos a Belmira, com a lágrima no canto do olho. Até que num momento e com uma réstia de lucidez pede ajuda - não estou bem! Sua mulher e filha contactam o seu Hospital e como resposta recebem: NÃO TEMOS VAGA PARA O DOENTE ... ! Nem aqui nem em Santa Maria???!!! Tinham uma carta em mãos, procurassem outro sítio onde o pudessem aceitar!!! No H.P.V. nada mais podiam fazer por ele.
As camas vagas dos Hospitais Públicos são para administrar tratamentos, não atenuamentos… Está tudo dito. Para bom entendedor… Havia dinheiro disponível? Vão-se os dedos e os anéis ... Chamaram uma ambulância e levaram o Francisco para o Privado mais perto de casa. O da moda. O Hospital da Luz. Hotel de 5 estrelas com prestação de Cuidados Paliativos.
E que são estes cuidados? Tratar a pessoa, não a doença dessa pessoa. Proporcionar-lhe todo o conforto, assisti-lo com medicamentos que controlem a dor, aliviar o seu sofrimento até que o coração pare por cansaço de tanta aflição. A família esperou. 9 dias. Olhava-o e via-o tranquilo. Ao fim desse tempo, veio a inevitável morte. Tranquilamente a família está de luto, mas em Paz.
Mas ... e se não houvesse possibilidades financeiras?
1 comentário:
Guidinha, muito certo este teu texto.
fiquei assim, sem palavras, só um beijinho, guida
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