Irlanda

Como alguém já afirmou, eu também não gosto de Nações, gosto de Povos. As Nações jogam com números, com estatísticas, com interesses. Os Povos com emoções. E todos os dias há abalos, precipitações, agitações, desordens. Como pode O Povo sobreviver nestas sociedades contraditórias? Eu pergunto-me e respondo-me, mas quanto a passar as idéias para aqui é-me muito difícil. Escrevo, reescrevo. Quando andava a pesquisar na Net, apareceu-me este texto de Boaventura de Sousa Santos (Coimbra, 15 de Novembro de 1940), que é doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e eu pensei: é mesmo isto. Nas perguntas, implicitamente estão as respostas. Como fazer?
"... / Esta clivagem entre esquerda e direita é salutar e revela que, apesar de todas as mudanças, a luta continua a ser, em grande medida, entre os partidos dos ricos e os partidos dos pobres, ainda que os ricos votem às vezes em solidariedade para com os pobres e os pobres votem às vezes como se os ricos fossem sempre solidários para com eles. Mesmo assim, os termos desta clivagem ocultam os desafios novos que o confronto entre globalizações ocorrido em Génova faz, tanto à esquerda, como à direita.

A direita é interpelada a responder às seguintes perguntas:
- É possível defender a soberania nacional sem proteccionismo?
- Como legitimar nacionalmente o poder das classes dominantes quando esse poder reside na subserviência com que servem interesses estrangeiros?
- Sendo a produção de exclusão social a condição necessária de um governo de direita eficaz, como impedir que ela se torne na condição suficiente para uma contestação vitoriosa por parte da esquerda?

Por sua vez, a esquerda é interpelada a responder ao seguinte:
- Como criar legitimidade democrática para além das fronteiras nacionais e para além da democracia representativa?
- Se nem todos os poderes e desigualdades vigentes nas sociedades capitalistas são capitalistas, como compatibilizar lutas locais, nacionais e globais contra a opressão e impedir que os oprimidos numas lutas não sejam os opressores noutras?
- Como manter a equação entre o princípio da liberdade e o princípio da igualdade, quando entre os dois se interpõe o princípio do direito à diferença?

A mioria dos políticos e a existência de partidos é cada vez mais maniqueísta - de um lado está tudo bem, do outro lado está tudo mal.
Como vejo eu, por exemplo, a Irlanda? Daqui, de Lisboa, ouvindo notícias há anos e tendo visto alguns filmes (todos de histórias de irlandeses)? Na Europa, mais propriamente nas Ilhas Britanicas, a Irlanda viveu durante 30 anos um conflito religioso (católicos vs. protestantes). Dizem as estatísticas que mais de quatro mil mortos aconteceram nesses anos de conflitos. Falavam a mesma língua, eram caucasianos e pertenciam a uma Europa. Só tinham crenças diferentes, como em outros locais do Mundo em vias de desenvolvimento. A força da guerra era a utilizada. Brutal. Tony Blair, 1º Ministro Britanico agora de saída, em dois momentos de decisão política no seu mandato fez a guerra no Iraque e tem a promessa da paz na Irlanda. A mesma pessoa com decisões distintas. Colou-se ao Presidente Bush (como se comandasse a vontade da Europa) para invadirem um País soberano, o Iraque. Os dois conseguiram matar o seu líder, e depois?! O Iraque está destruído como Nação e o Povo na miséria. Há milhares de mortos civis e militares - iraquianos, americanos, britanicos e de outras Nações. Está para durar. Por outro lado, o mesmo Blair com a Irlanda, mantendo conversações com quem queria fazer a guerra * consequiu aliar a coragem utópica à coragem realista ** . Não é tão diferente? Parece que só quando o Homem quer, é que o sonho nasce e a Paz se consegue.
Um homem nunca sabe aquilo de que é capaz até que o tenta fazer ***.
* É preciso FALAR com quem quer fazer a guerra, Mário Soares
** Ouvi na Antena 2 a José Manuel Pureza
*** Charles Dickens

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