Estivemos entre as núvens, de segunda 26 a sábado 31. E frio e chuva. Marido, o encarregado de ir buscar lenha e manter a chama a crepitar na salamandra e aquecer a casa, a partir das 4 da tarde.
Cházinhos e tisanas para aquecer o corpo ... e a alma, isso era comigo.
E inventar coisas para ajudar a passar o tempo?! Na mala, levo sempre um livro, não vá o diabo tecê-las, se não pudermos sair para a rua... e algo com que possa sublinhar passagens ou rabiscar notas, geralmente um lápis. Sentada na mesa, perto da salamandra, deu-me para ler. E a páginas 47, de "Cada palavra é uma semente" de Susana Tamaro, sublinhei e agora copio:
"Não tenho por natureza um temperamento optimista. A passagem dos anos e tudo o que acontece à minha volta não contribuíram para o melhorar. Quando volto a pensar na história deste último século, sinto um certo alívio por não ter gerado filhos. É um tempo que me mete medo, mas ainda mete mais medo o tempo que está para vir".
Quando li esta passagem, parei e olhei lá para fora. Não tenho filhos. Não vi a luz do Sol. Esse "O tempo que está para vir", não era a Primavera, era o tempo que os homens constroem. Um tempo de imposição dos grandes e poderosos e malvados sobre os mais pequenos e oprimidos e fracos. Do nosso distanciamento, como povo das realidades do nosso País e do nosso Planeta, por sermos "burros" e porque em educação somos, em 30 países, o trigésimo. Do chico-espertismo português... Cá estou eu a refilar...
Os povos desta época, estão a passar por tempos atmosférico e histórico muito estranhos.

Via-Láctea - Imagem buscada em www.geocities.com
Que coisa. Estamos em férias! Fechei o livro.
Pelo menos, durante 5 diazinhos, tinha querido tanto estar na Serra com Marido, longe das notícias dos telejornais. Queria tanto dar-mos longos passeios a pé, de cachecol, luvas, barrete, com a nossa Bi, apreciar-mos as vistas, olharmos o nosso bafo quando respirássemos ofegantes depois de uma corridinha com ela. Pelo menos até às 4 da tarde de todos os dias. E ouvirmos os chocalhos dos rebanhos das cabras, o som das águas a correrem pelos montes, em pequenas quedas ou ribeiros...
E as noites, noites límpidas e gélidas, de preferência sem lua, em que mais uma vez iríamos re-ver, claramente no céu, uma faixa nebulosa atravessando o hemisfério celeste de um horizonte a outro - a Via Láctea, ou como o senhor meu Pai lhe chamava, a Estrada de Santiago.
"Cegos que vos cansais a interrogá-la! Vê-la bastava; que a paixão primeira
Não pela voz, mas pelos olhos fala." Olavo Bilac - Via Láctea
E a Estrela do Norte, e as constelações. "Ora viste-la", como diria a Senhora minha Avó, Olinda.
Maldito ceu nublado, que não nos deixou ver as estelas.
Paciência. Fica para a próxima. Acabámos as férias como começámos - a chover e com muito frio.
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