L’important c’est la rose

Foto de Guidinha Pinto: Horizonte


Por causa da "Saúde" em Portugal, lembrei-me e fui buscar um artigo publicado na revista Tempo Livre, que guardei por achar que iria fazer algo dele, para além de o ter lido mais que uma vez. Talvez por isso, quero pô-lo aqui. "O importante é a rosa", assinado por Maria Alice Fabião.

Parte dele reza assim:
... "Em Maio de 2006, a população mundial é estimada em 6.800.000.000 de seres humanos. Quem associa esse número ao sofrimento da mulher?O cristão medieval considera a gravidez e o parto resultantes de um pecado carnal que, segundo o Livro do Génesis, a mulher, e só ela, deve expiar pela dor. Nessa “época de fé”, a mortalidade da mãe e do filho durante o parto atinge números jamais atingidos anteriormente. A única preocupação é baptizar a criança, o que justifica, então, a tortura e morte da mãe e do filho. A parturiente não tem direito a ajuda médica, não só porque a moral sexual da época o proíbe, mas porque um médico considera a sua intervenção num parto indigno da sua profissão. O Dr. Wert, de Hamburgo, que em 1522 se veste de mulher para participar num parto difícil, paga esse “crime” com a morte na fogueira. Não há então assepsia, não há anestesia – mas, indiferente ao sofrimento e morte da mãe, a Igreja advoga a realização de cesarianas – para salvar a alma do filho. A origem do termo “cesariana” é, durante muito tempo, explicada pela crença de que Júlio César nasceu por esse processo. Nesse tempo, porém, a operação não se realizava em mulheres vivas – e a mãe de César sobreviveu muitos anos à pretensa cesariana. Mais provável é que o termo tenha uma origem mais antiga. Em 715 aC, Numa Pompílio, sucessor de Rómulo e segundo dos sete reis de Roma, codifica a lei romana, sob o nome de LEX REGIA, estabelecendo a extracção do filho de qualquer mãe que morresse em avançado estado de gravidez, para mãe e filho serem sepultados separadamente. A LEX REGIA passa a ser, no tempo dos imperadores, LEX CESARE, lei dos Césares, e a operação “CESARIANA”. Para quê serviços de obstetrícia? Por que não confiar os cuidados de saúde do País a quem, na televisão, garante a cura de todos os males? No fim de contas, segundo as imagens, também para eles, “L’important c’est la rose…”*


* Gilbert Bécaud.

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