Uma direcção e não soluções

Lembro uma história que ouvi, há tempos, de um homem que deu dinheiro a uma mulher que chorava e dizia que seu filho tinha uma horrível doença terminal. Depois de dar dinheiro à mulher, outras pessoas que assistiram a tudo avisaram o homem que ele tinha sido enganado: -ela conta a mesma história há anos...
O homem, pensativo, perguntou: - então não existe nenhum garoto a morrer? Todos abanaram a cabeça.
Então o homem abriu um sorriso e comemorou: - Essa foi a melhor notícia do dia!
Em situação idêntica, sentir-me-ia embaraçada. E saberia eu justificar o meu embaraço com o mesmo encanto de alma? Não. Um garoto desconhecido, que afinal não estava doente e consequentemente não iria morrer... sinceramente eu não seria capaz do mesmo sentimento, como o do homem da história. Todos os dias me bombardeiam com notícias trágicas, nos noticiários nacionais. A tendência é ser encaminhada, direccionada para o trágico, para a perda do "humano" que existe no indivíduo. Tal como o homem da história, no acto de dar, sou uma mulher com solução imediata para a mão estendida. Independentemente da "esperteza saloia" tão comum entre nós portugueses, se alguém me pede, eu dou-lhe. E ponto final.
Mas quantas "mulher da história" existem, sem direcção? Como escreveu Almada Negreiros - a solução é sempre um remédio passageiro para disfarçar a desgraça. Ao passo que a direcção é a própria dignidade posta nas mãos do desgraçado para que deixe de o ser.
Diz quem observa, que o indivíduo precisa de direcção e não de solução.
Tal como em Goethe, visto por Almada Negreiros - "Haverá alguém que se afaste de quantas realidades irrealizáveis onde costumam habitar instaladas as gentes. E impassível, desde cima, assistir ao desenrolar da tragédia. E ver o mundo inteiro por cima de todas as cabeças, e ver a Europa toda e com cada um dos seus pedaços, e ver cada indivíduo da Humanidade como um pequenino astro tonto, que nem sabe sequer ir na parábola da sua própria trajectória, e ver que de todos os seres deste mundo o único que erra o seu fim é o Homem, o dono da Terra!"
Mas eu sou uma mulher, secretária aposentada que é agora dona-de-casa, não fui escolhida para governar nem direccionar o meu País! Outros se ofereceram para o fazer e foram nomeados. E para fazer o quê? Governar-nos, ora essa. E o Orçamento de Estado? E a Ota! E o TGV! E os chorudos ordenados e pensões de reforma para os indivíduos da política - vulgo funcionários públicos, que crescem com este governo como com qualquer um dos outros como tortulhos, na terra dos meus avós, de preferência onde a terra foi estrumada e há bastantes fungos e bactérias!? E o desemprego? E o Capital a exportar as máquinas que existiam nas fábricas encerradas devido a falências... para outros mercados onde outros indivíduos podem ser sugados da sua dignidade, resultando em mais valias a exploração da miséria humana? E os dois carros que foram icendiados hoje, na Amadora... quem sabe, com o que está a acontecer em Paris...

Qualquer coisa que nos aterrorize, é uma boa notícia.
E aqui andamos, no chão deste Portugal, alienados, sem ter cabeça para pensar em nada e a pensar em tudo, nas telenovelas, nos programas das manhãs de 3 canais, no que dizem as bruxas e os adivinhos e os patos Donalde, e nos jornais que começam todos às 8 da noite, sempre com notícias de abertura anunciadas muito antes em notas de roda-pé - não perca, às 8 - e com muitos medos.
E o medo paralisa, entorpece a mente, é o pior aliado na convivência e na solidariedade entre os indivíduos, no interesse do bem comum.
Fechem para balanço. Nova Direcção, precisa-se.

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